"Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo; de fato, sempre foi, somente, assim que o mundo mudou."

(Fritjof Capra)

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A violência contra professores chega a niveis insuportáveis e ninguém faz nada!

Hoje o tema foi matéria de destaque no Jornal Correio Popular - Campinas/SP, já que a violência que os docentes estão sofrendo nas escolas está provocando inúmeras consequências no ensino, mas principalmente na vida dos professores.
"Professores têm enfrentado tapas no rosto, zombarias com vídeos na internet, assédio moral e até sexual, além de outros tipos de agressões que variam entre a física e a psicológica. Sob a pressão de pais, alunos e, em muitos casos, da diretoria, os profissionais da educação buscam cada vez mais ajuda médica e remédios para suportar o estresse." (Correio Popular de 13/12/10 por Fábio Galacci e Natan Dias)
Se já não bastasse os baixos salários, a ausência de planos de cargos e carreiras "decentes", a falta de condições materiais de trabalho, a falta de prestígio e reconhecimento social; agora, e claro, como consequência se tem de conviver com a total falta de respeito de alunos e  familiares.
O caso do professor de B.H. morto por aluno porque não aceitou receber nota baixa levanta novamente a questão da falta de limites dos pais para os filhos no âmbito familiar, a falta de dizer vários e sonoros NÃO aos filhos desde a primeira infância. Depois, dá nisso: ao primeiro NÃO recebido fora de casa reage das formas mais variadas e imprevisiveis.
Na maioria das vezes as agressões, desrespeito partem exatamente das tentativas dos docentes em impor regras para o bom convívio comum e/ou para proteger os próprios alunos, no entanto, essas atitudes podem provocar desdobramentos antes inimagináveis. Como por exemplo o relato de um professor de Ed. Física de uma escola da rede pública estadual em Campinas, citado na reportagem acima, como segue:
"Como regra, para melhor desempenho dos alunos e menor risco de acidentes, ele não permite que as cças do ens. fund. façam suas aulas com qualquer outro calçado senão tênis. O fato de uma aluna estar de sandálias e ser barrada em uma aula desencadeou uma guerra que até hoje atormenta o profissional. A mãe não gostou da proibição e foi reclamar na direção da escola, afirmando que a criança havia sido "humilhada" pelo professor. "Ela me agrediu, me deu murros, tapas, rasgou a minha roupa na frente de outras pessoas. Até guarda-chuvada eu levei" lembra E.R.L. que registrou B.O. na polícia e acionou a mãe judicialmente. Mas, mais do que os golpes, diz o professor, o que doeu realmente foi a indiferença da Secretaria de Estado da Educação e da Diretoria de Ensino Leste de Campinas, sobre o caso. "Não recebi apoio nenhum, ninguém me procurou para saber se precisava de algo ou se estava bem. Só fui amparado pela minha família e pelos meus amigos. Apenas eles ficaram do meu lado", afirma o profissional." (fonte citada acima)
Obviamente o resultado do trauma afetou a saúde emocional do docente, assim como seu desempenho na profissão que escolheu para a sua vida.
Este é apenas um entre milhares de casos de agressões físicas e morais contra os profissionais da escola que se espalham hoje por este país sem que se veja um só ato contra isso tudo nas políticas públicas educacionais.
Temos Direitos Humanos para todo cidadão que comete qualquer tipo de criminalidade para o defender; temos o ECA (estatuto da criança e do adolescente) que garante todos os direitos a estes, o que é indiscutível, mas não existe nenhum Estatuto de Proteção e Garantia de Direitos aos Profissionais da Educação. E porquê?  Por que os professores - profissional de todos os profissionais- está sempre às margens desta sociedade? Pior, na maioria das vezes são eles os acusados de "culpados" na mídia.
Sabe-se que, infelizmente, há profissionais que não correspondem com o compromisso e a responsabilidade que tal profissão exige, mas também é sabido que não é o que prevalece, e ainda, que esse tipo de profissional têm em todas as áreas no mercado de trabalho.
Vale destacar aqui as sábias palavras de Antonio Nóvoa (Doutor em Educação) sobre as condições dos professores no Brasil:
"Há hoje um excesso de missões dos professores, pede-se demais aos professores, pede-se demais as escolas.
As escolas, talvez, resumindo numa frase (...), as escolas valem o que vale a sociedade. Não podemos imaginar escolas extraordinárias, espantosas, onde tudo funciona bem numa sociedade onde nada funciona. Acontece que, por uma espécie de um paradoxo, as coisas que não podemos assegurar que existam na sociedade, nós temos tendência a projetá-las para dentro da escola e a sobrecarregar os professores com um excesso de missões. Os pais não são autoritários, ou não conseguem assegurar a autoridade, pois se pede ainda mais autoridade para a escola. Os pais não conseguem assegurar a disciplina, pede-se ainda mais disciplina  a escola. Os pais não conseguem que os filhos leiam em casa, pede-se a escola que os filhos aprendam a ler. É legítimo eles pedirem sobre a escola, a escola está lá para cumprir uma determinada missão, mas não é legítimo que sejam uma espécie de vasos comunicantes ao contrário. Que cada vez que a sociedade tem menos capacidade para fazer certas coisas, mais sobem as exigências sobre a escola.
E isto é um paradoxo absolutamente intolerável e tem criado  para os professores uma situação insustentável do ponto de vista profissional, submetendo-os a uma crítica pública, submetendo-os a uma violência simbólica nos jornais, na sociedade, etc. o que é absolutamente intolerável. Eu creio que os professores podem e devem exigir duas coisas absolutamente essenciais que são:
·          Uma, é calma e tranqüilidade para o exercício do seu trabalho, eles precisam estar num ambiente, eles precisam estar rodeados de um ambiente social, precisam estar rodeados de um ambiente comunitário que lhes permita essa calma e essa tranqüilidade para o seu trabalho. Quer dizer, não é possível trabalhar pedagogicamente no meio do ruído, no meio do barulho, no meio da crítica, no meio da insinuação. É absolutamente impossível esse tipo de trabalho. As pessoas têm que assegurar essa calma e essa tranqüilidade.
·          E, por outro lado, é essencial ter condições de dignidade profissional. E esta dignidade profissional passa certamente por questões materiais, por questões do salário, passa também por boas questões de formação, e passa por questões de boas carreiras profissionais. Quer dizer, não é possível imaginar que os professores tenham condições para responder a este aumento absolutamente imensurável de missões, de exigências no meio de uma crítica feroz, no meio de situações intoleráveis, de acusação aos professores e às escolas.
Eu creio que há, para além dos aspectos sociais de que eu falei a pouco – e que são aspectos extremamente importantes, porque no passado os professores não tiveram, por exemplo, os professores nunca tiveram situações materiais e econômicas muito boas, mas tinham prestígio e uma dignidade social que, em grande parte completavam algumas dessas deficiências –"

Como já disse não há que se esperar que as soluções venham de cima pra baixo, isso é o mesmo que acreditar em papai noel, portanto, somente a união dos profissionais da educação e com muito apoio da mídia - verdadeira - e de setores da sociedade que poderá haver mudanças.
Rosa Zamp



6 comentários:

  1. Essas agressões não são de hoje, não... sofri linchamento moral de 1/3 de meus alunos numa importante universidade pública. E o pior é que alguns colegas apoiaram e participaram! E a universidade, do conselho de departamento à reitoria, todas as instâncias, nada fizeram!

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  2. Você conheci um país e seu futuro, pela forma que seus governantes tratam determinados assuntos!

    Muita Luz!

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  3. Sou uma pessoa que vive na vida acadêmica e isso me deixa muito triste...

    Beijos Rosa.

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  4. Sonia sabemos que esse tema é recorrente, mas justamente continua acontecendo e cada vez de forma mais violenta por omissão tanto de governantes como dos próprios educadores. Temos que fazer a nossa parte e comecemos por denunciar toda e qualquer forma de desrespeito e violência contra os professores.

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  5. Roberta querida, está na hora de deixarmos a tristeza de lado e agirmos. Eu, particularmente,
    farei o que puder para denunciar toda prática lesiva aos educadores, pois, sou educadora, amo o que faço e não vou ficar calada diante da aniquilação que os Professores estão passando nesta sociedade.

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  6. Rosa, você me falou algo importante, vamos deixar a tristeza de lado e AGIR,DENUNCIAR eu já faço isso,o que não me faz voltar a dizer...fico triste, porque a impunidade neste pais esta em todos os setores...mas não podemos ficar nesse silêncio em tudo que acontece,e observe nossa sociedade esta sofrendo dessa doença,omissão!

    Omissão também é um verbo,você esta agindo mesmo aparentemente sem sair do lugar,infelizmente para o lado negativo!

    DENUNCIAR SIM,sou uma pessoa contra qualquer tipo de violência!

    Gosto muito do seu Blog e amo receber você no meu cantinho!

    Muita LUZ!

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