"Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo; de fato, sempre foi, somente, assim que o mundo mudou."
(Fritjof Capra)
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Wikileaks: pela regulação, o controle e a democratização do acesso à informação?
Postado no blog do limpinho e cheiroso página que vale ser acompanhada.
Meta do WikiLeaks: Democratizar o acesso à informação
(Igor Natusch)
Para alguns, uma grande vitória dos movimentos pela liberdade de informação, e uma iniciativa que pode provocar mudanças efetivas na relação entre os cidadãos e o poder. Para outros, uma aventura que tange a ilegalidade, liderada por um lunático e que pode colocar em risco a vida de milhares de pessoas. Mais do que provocar uma grande dor de cabeça para governos de todo o mundo, o WikiLeaks está redefinindo conceitos jornalísticos e provocando grandes discussões éticas.
A divulgação de documentos sigilosos teria como grande motivador “a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação”, afirma a jornalista Natalia Viana, representante do sítio no Brasil. Esta vontade levou o WikiLeaks a vazar documentos que expuseram pontos embaraçosos da política externa dos EUA e de vários outros países. As atividades da organização transnacional se tornaram uma das principais pautas de 2010. Veículos de imprensa, como o jornal francês Le Monde e a revista norte-americana Time, escolherem a principal figura pública do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, como personalidade do ano.
(Julian Assange)
Para o professor de jornalismo da UnB Luiz Martins, o sítio segue a linha da pós-moralidade: no caso de um princípio maior estar em jogo, as leis são ignoradas. Já o alemão Mathew Ingram, residente no Canadá, ligado ao sítio GigaOm.com acredita que o WikiLeaks aproveitou a insatisfação com os governos para criar um novo nicho de informação. “Buscar informações diferenciadas é uma necessidade eterna do Jornalismo e não pode ser condenada”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, defendendo a atuação do WikiLeaks.
Dissidentes criaram o sítio
O sítio foi lançado em 2006, por iniciativa de uma fundação chamada The Sunshine Press. No sítio oficial, a organização diz ter sido fundada por dissidentes de vários regimes políticos, além de contar com a participação de jornalistas, matemáticos e especialistas em tecnologias da informação – entre eles, vários hackers. Considerado por muitos como o principal mentor do sítio, Julian Assange, jornalista e ciberativista, é, na verdade, o editor-chefe do portal e o porta-voz de um grupo de nove conselheiros, que coordena as atividades da organização.
Antes de ganhar as manchetes, o WikiLeaks já havia sido reconhecido por seu trabalho na revelação de documentação sigilosa sobre governos de todo mundo. Julian Assange recebeu, em 2009, um prêmio da Anistia Internacional, relativo à divulgação de dados sobre assassinatos extrajudiciais promovidos pelo governo do Quênia. Mas a repercussão do sítio tornou-se maior a partir de abril de 2010, quando foi exibido na internet o vídeo que mostra um helicóptero de guerra dos EUA matando ao menos 12 civis durante a ocupação do Iraque — entre eles, dois jornalistas ligados à agência Reuters de notícias.
Embora o WikiLeaks tenha sua sede jurídica na Suécia, para aproveitar-se das flexíveis leis de imprensa do país, não existe uma sede oficial. Entre os colaboradores do WikiLeaks, estariam nomes como Francisco Chico Whitaker (ativista social brasileiro e um dos principais articuladores do Fórum Social Mundial), Ben Laurie (criador do servidor web Apache-SSL) e o especialista em segurança de computadores Jacob Appelbaum, além de nomes ligados aos protestos na Praça da Paz Celestial, na China, em 1989.
Documento histórico
Em matérias publicadas no sítio Opera Mundi, do qual é colaboradora, a jornalista Natalia Viana, integrante do WikiLeaks e que tem coordenado a divulgação dos documentos na imprensa brasileira, afirma: “Eles (documentos) são muito mais do que uma simples denúncia sobre como os EUA atuam no mundo e em que tipo de sujeira eles podem estar envolvidos. São um contundente documento histórico que deixa exposta a essência de uma era”. Para ela, a atuação do WikiLeaks revela “a narrativa diplomática sobre duas guerras falidas (Iraque e Afeganistão), uma guerra contra o terror igualmente fracassada, uma crise financeira como poucas na história, e o início de uma nova ordem mundial com uma multiplicidade de nações surgindo como importantes atores globais”.
Natalia Viana, em outro texto, descreve os esforços que envolvem a divulgação de informações sigilosas, os cuidados que exigem e as represálias que o WikiLeaks vem sofrendo. “O WikiLeaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo”, diz a jornalista. “Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança”.
Assange: caráter altruísta”
O professor de jornalismo Luiz Martins, da UnB, interpreta as ações do WikiLeaks e de Julian Assange dentro dos estágios de moralidade, conceito proposto pelo psicólogo Jean Piaget. Para ele, o fundador do WikiLeaks atua em um nível de pós-moralidade, onde a desobediência às leis é aceita, caso um princípio maior esteja em jogo. “O espírito corporativo pode ser torpe, se prestar a imundícies e imoralidades. O que Assange faz é adotar uma postura pós-moral, de caráter altruísta, aceitando alterar os rumos da própria vida em nome de uma causa. Para ele e para os que o apoiam, vazar (documentos sigilosos) é algo que se justifica em nome de valores mais elevados”, descreve.
Mathew Ingram, pensador de tecnologias da informação ligado ao sítio GigaOm.com, acredita que o WikiLeaks aproveitou um nicho criado pela insatisfação das pessoas com os governantes do mundo todo, em especial dos EUA. “Muitos se sentem desconfortáveis com o modo como os EUA lidam com as situações, no Iraque e em outros lugares. Isso deu a hackers e vazadores de informação a oportunidade de se unirem em um projeto comum”, disse Ingram ao Sul21, por e-mail.
“O que o WikiLeaks está fazendo é até comum. Divulgar informações sigilosas não é nenhuma novidade”, afirma Luiz Martins, da UnB. Mas adverte que os governos se tornam “mais opacos” em situações de guerra. Isso, segundo Martins, acrescenta grande relevância ao trabalho do sítio. “As informações de guerra chegam até nós com anos de atraso, por serem consideradas de segurança nacional. Prefiro o trabalho do WikiLeaks, que funciona como contrabalança”, diz o professor, acrescentando que o projeto de Julian Assange aumenta o grau de vigilância sobre o que acontece no front – papel que, desde a Guerra do Vietnã, a mídia não tem conseguido cumprir plenamente.
Martins defende as ações do WikiLeaks, comparando-as com atos de desobediência civil. “É um ato que tem um custo alto para quem começa, mas que aos poucos vai mobilizando uma legião de indignados”, assinala. “Se a lei é espúria, prestando-se à ocultação de indignidades, a conduta mais elevada acaba sendo dentro de uma linha de pós-moralidade, indo contra as leis para combater uma guerra injusta”.
Segundo Mathew Ingram, o WikiLeaks não difere muito, em termos gerais, do que outros veículos de informação fazem no dia-a-dia. “Os jornais e redes de televisão buscam o mesmo objetivo do WikiLeaks: trazer informação que os governos não desejam que se tornem públicas. Nesse sentido, considero o WikiLeaks como uma entidade jornalística, ainda que de uma natureza um pouco distinta, já que os demais veículos de imprensa podem utilizá-lo em benefício deles próprios”. Em um dos artigos que publicou para explicar os preceitos do WikiLeaks, Natalia Viana segue uma argumentação semelhante. “O WikiLeaks não foi feito para ganhar dinheiro, para dominar um nicho de mercado ou para atacar um governo. O WikiLeaks foi feito para ajudar essas fontes a realizarem algo que já desejavam, com maior segurança. É, na sua essência, um bom serviço jornalístico”, diz.
EUA e o WikiLeaks
Ao mesmo tempo em que o trabalho do WikiLeaks é elogiado e chega a empolgar boa parte do mundo, alguns setores levantam questões éticas que estariam, supostamente, sendo desconsideradas pelo sítio. “Estes documentos são propriedade do governo dos EUA e contêm informações classificadas e sensíveis”, declarou o Pentágono em nota oficial, logo após o vazamento de documentos sobre a guerra no Afeganistão. Segundo órgãos ligados a departamentos de defesa de vários países envolvidos nos vazamentos, a divulgação dos registros ameaça a vida e a segurança de soldados e diplomatas, além de revelar estratégias que podem ser utilizadas de forma hostil por nações inimigas.
“Acredito que qualquer veículo que libere informações dessa natureza tem que ser cuidadoso para evitar que vidas sejam colocadas em risco”, diz Mathew Ingram, do GigaOm.com. Ele, no entanto, defende que o WikiLeaks tem mantido, até o momento, os mesmos critérios adotados por jornais como o New York Times, no que se refere à liberação de informações sensíveis. Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), concorda. “Buscar informações diferenciadas é uma necessidade eterna do Jornalismo, e não pode ser condenada”, diz.
Para Maurício, questões importantes para a ética jornalística, como a preservação de nomes que podem ser atingidos pela divulgação dos dados, estão sendo, aparentemente, seguidas pelo sítio. “Há muitas argumentações nesse sentido, de que os telegramas vazados trariam risco para soldados ou diplomatas, mas isso não se verificou até o momento. Não acredito que existam impeditivos éticos ao trabalho que vem sendo feito pelo WikiLeaks”, argumenta.
As armações contra Assange
O próprio Julian Assange, principal figura pública do WikiLeaks, está envolvido em uma grande questão jurídica. Assange foi preso na Inglaterra, no dia 7 de dezembro, com base em um mandato de prisão expedido na Suécia. Segundo a acusação, ele teria cometido estupro e coerção ilegal contra duas ex-colaboradoras do sítio, ao manter relações sexuais sem preservativo. As duas supostas vítimas, identificadas no processo como “Senhorita A” e “Senhorita W”, teriam entrado em contato com Assange durante uma entrevista coletiva em Estocolmo, organizada pela ala cristã do Partido Social-Democrata sueco.
Assange teria ficado hospedado na casa da “Senhorita A”, que acompanhou Assange durante a visita como assessora de imprensa. A “Senhorita W”, por sua vez, teria ido atrás de Julian Assange ao saber, pela televisão, que ele estaria na cidade. O fundador do WikiLeaks teria, segundo as acusações, mantido relações sexuais sem preservativo com as duas – o que seria agravado, no caso da segunda mulher, por ter ocorrido à força, enquanto ela dormia. O advogado que defende Assange alega que as acusações são parte de uma armação, e alguns sítios divulgaram que uma das acusadoras teria, durante anos, trabalhado para a CIA, o que seria um indício de que as acusações foram forjadas. O próprio Julian Assange deu declarações à imprensa, nas quais se diz um “preso político”. O mentor do WikiLeaks foi libertado sob fiança no dia 16, e aguarda julgamento em território inglês.
Maurício Azêdo, da ABI, teme que as insinuações de perseguição a Assange tenham boa dose de verdade. “É um processo no mínimo estranho, que surge em um momento que causa grande desconfiança. Não é a primeira vez que veríamos esse tipo de expediente usado contra quem traz informações que são desagradáveis a grupos poderosos”, adverte.
Luiz Martins, da UnB, prevê que os governos sejam forçados a adotar uma espécie de “freio de arrumação” como reação aos danos causados pelo WikiLeaks. Segundo ele, a documentação de atividades consideradas sensíveis pelos governos, como as que envolvem movimentações de guerra, pode ser bastante modificada. “É possível que essas documentações diminuam de intensidade, que haja opção por não registrar certas ações em vídeo, por exemplo. Com isso, ficaria muito mais difícil revelar os excessos, que podem até aumentar, na medida em que os soldados saibam que não haverá imagens para fiscalizar seu comportamento”, argumenta.
Novo sítio para vazar documentos
O impacto causado pelo Wiki-Leaks com a divulgação de in-formações sigilosas de gover-nos é tanto que já começam a surgir “concorrentes” do sítio. O mais destacado, no momen-to, é o OpenLeaks, criado pelo alemão Daniel Domscheit-Berg, um ex-colaborador de Julian Assange. Ainda não existem detalhes maiores sobre o modo como o novo projeto irá atuar, mas acredita-se que ele não seguirá o modelo de centralizar vazamentos, sendo mais uma ferramenta de gerenciamento, disponível para quem deseje divulgar informações sobre governos, ONGs, empresas e outros órgãos semelhantes. Em princípio, cada fonte poderá escolher os meios e os veículos pelos quais as informações serão divulgadas, tendo maior controle sobre a abrangência e o impacto de suas revelações. A previsão é de que o serviço comece a funcionar no primeiro semestre deste ano, ainda em caráter experimental.
A leitura feita por muitos veículos de imprensa é de que o OpenLeaks é fruto de uma dissidência do WikiLeaks, surgindo como uma forma de superá-lo, ou até mesmo de neutralizá-lo. Mas o próprio WikiLeaks prefere encarar a questão por outro prisma. “Em minha opinião, soa meio patético quando algumas reportagens chamam o novo sítio de ‘rival’ do WikiLeaks”, declara a jornalista Natalia Viana. “Elas estão olhando esse novo fenômeno da internet com olhos antigos, assentados sobre o velho conceito das empresas jornalísticas de competição. Não é disso que se trata o WikiLeaks. Pelo contrário. É ótimo que haja outra organização, com critérios diferentes, espalhando esse novo conceito, que é permitir que qualquer pessoa denuncie algo errado no local onde trabalha”.
Via Sul 21
Por: http://limpinhocheiroso.blogspot.com às 17:51 0 comentários
Meta do WikiLeaks: Democratizar o acesso à informação
(Igor Natusch)
Para alguns, uma grande vitória dos movimentos pela liberdade de informação, e uma iniciativa que pode provocar mudanças efetivas na relação entre os cidadãos e o poder. Para outros, uma aventura que tange a ilegalidade, liderada por um lunático e que pode colocar em risco a vida de milhares de pessoas. Mais do que provocar uma grande dor de cabeça para governos de todo o mundo, o WikiLeaks está redefinindo conceitos jornalísticos e provocando grandes discussões éticas.
A divulgação de documentos sigilosos teria como grande motivador “a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação”, afirma a jornalista Natalia Viana, representante do sítio no Brasil. Esta vontade levou o WikiLeaks a vazar documentos que expuseram pontos embaraçosos da política externa dos EUA e de vários outros países. As atividades da organização transnacional se tornaram uma das principais pautas de 2010. Veículos de imprensa, como o jornal francês Le Monde e a revista norte-americana Time, escolherem a principal figura pública do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, como personalidade do ano.
(Julian Assange)
Para o professor de jornalismo da UnB Luiz Martins, o sítio segue a linha da pós-moralidade: no caso de um princípio maior estar em jogo, as leis são ignoradas. Já o alemão Mathew Ingram, residente no Canadá, ligado ao sítio GigaOm.com acredita que o WikiLeaks aproveitou a insatisfação com os governos para criar um novo nicho de informação. “Buscar informações diferenciadas é uma necessidade eterna do Jornalismo e não pode ser condenada”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, defendendo a atuação do WikiLeaks.
Dissidentes criaram o sítio
O sítio foi lançado em 2006, por iniciativa de uma fundação chamada The Sunshine Press. No sítio oficial, a organização diz ter sido fundada por dissidentes de vários regimes políticos, além de contar com a participação de jornalistas, matemáticos e especialistas em tecnologias da informação – entre eles, vários hackers. Considerado por muitos como o principal mentor do sítio, Julian Assange, jornalista e ciberativista, é, na verdade, o editor-chefe do portal e o porta-voz de um grupo de nove conselheiros, que coordena as atividades da organização.
Antes de ganhar as manchetes, o WikiLeaks já havia sido reconhecido por seu trabalho na revelação de documentação sigilosa sobre governos de todo mundo. Julian Assange recebeu, em 2009, um prêmio da Anistia Internacional, relativo à divulgação de dados sobre assassinatos extrajudiciais promovidos pelo governo do Quênia. Mas a repercussão do sítio tornou-se maior a partir de abril de 2010, quando foi exibido na internet o vídeo que mostra um helicóptero de guerra dos EUA matando ao menos 12 civis durante a ocupação do Iraque — entre eles, dois jornalistas ligados à agência Reuters de notícias.
Embora o WikiLeaks tenha sua sede jurídica na Suécia, para aproveitar-se das flexíveis leis de imprensa do país, não existe uma sede oficial. Entre os colaboradores do WikiLeaks, estariam nomes como Francisco Chico Whitaker (ativista social brasileiro e um dos principais articuladores do Fórum Social Mundial), Ben Laurie (criador do servidor web Apache-SSL) e o especialista em segurança de computadores Jacob Appelbaum, além de nomes ligados aos protestos na Praça da Paz Celestial, na China, em 1989.
Documento histórico
Em matérias publicadas no sítio Opera Mundi, do qual é colaboradora, a jornalista Natalia Viana, integrante do WikiLeaks e que tem coordenado a divulgação dos documentos na imprensa brasileira, afirma: “Eles (documentos) são muito mais do que uma simples denúncia sobre como os EUA atuam no mundo e em que tipo de sujeira eles podem estar envolvidos. São um contundente documento histórico que deixa exposta a essência de uma era”. Para ela, a atuação do WikiLeaks revela “a narrativa diplomática sobre duas guerras falidas (Iraque e Afeganistão), uma guerra contra o terror igualmente fracassada, uma crise financeira como poucas na história, e o início de uma nova ordem mundial com uma multiplicidade de nações surgindo como importantes atores globais”.
Natalia Viana, em outro texto, descreve os esforços que envolvem a divulgação de informações sigilosas, os cuidados que exigem e as represálias que o WikiLeaks vem sofrendo. “O WikiLeaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo”, diz a jornalista. “Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança”.
Assange: caráter altruísta”
O professor de jornalismo Luiz Martins, da UnB, interpreta as ações do WikiLeaks e de Julian Assange dentro dos estágios de moralidade, conceito proposto pelo psicólogo Jean Piaget. Para ele, o fundador do WikiLeaks atua em um nível de pós-moralidade, onde a desobediência às leis é aceita, caso um princípio maior esteja em jogo. “O espírito corporativo pode ser torpe, se prestar a imundícies e imoralidades. O que Assange faz é adotar uma postura pós-moral, de caráter altruísta, aceitando alterar os rumos da própria vida em nome de uma causa. Para ele e para os que o apoiam, vazar (documentos sigilosos) é algo que se justifica em nome de valores mais elevados”, descreve.
Mathew Ingram, pensador de tecnologias da informação ligado ao sítio GigaOm.com, acredita que o WikiLeaks aproveitou um nicho criado pela insatisfação das pessoas com os governantes do mundo todo, em especial dos EUA. “Muitos se sentem desconfortáveis com o modo como os EUA lidam com as situações, no Iraque e em outros lugares. Isso deu a hackers e vazadores de informação a oportunidade de se unirem em um projeto comum”, disse Ingram ao Sul21, por e-mail.
“O que o WikiLeaks está fazendo é até comum. Divulgar informações sigilosas não é nenhuma novidade”, afirma Luiz Martins, da UnB. Mas adverte que os governos se tornam “mais opacos” em situações de guerra. Isso, segundo Martins, acrescenta grande relevância ao trabalho do sítio. “As informações de guerra chegam até nós com anos de atraso, por serem consideradas de segurança nacional. Prefiro o trabalho do WikiLeaks, que funciona como contrabalança”, diz o professor, acrescentando que o projeto de Julian Assange aumenta o grau de vigilância sobre o que acontece no front – papel que, desde a Guerra do Vietnã, a mídia não tem conseguido cumprir plenamente.
Martins defende as ações do WikiLeaks, comparando-as com atos de desobediência civil. “É um ato que tem um custo alto para quem começa, mas que aos poucos vai mobilizando uma legião de indignados”, assinala. “Se a lei é espúria, prestando-se à ocultação de indignidades, a conduta mais elevada acaba sendo dentro de uma linha de pós-moralidade, indo contra as leis para combater uma guerra injusta”.
Segundo Mathew Ingram, o WikiLeaks não difere muito, em termos gerais, do que outros veículos de informação fazem no dia-a-dia. “Os jornais e redes de televisão buscam o mesmo objetivo do WikiLeaks: trazer informação que os governos não desejam que se tornem públicas. Nesse sentido, considero o WikiLeaks como uma entidade jornalística, ainda que de uma natureza um pouco distinta, já que os demais veículos de imprensa podem utilizá-lo em benefício deles próprios”. Em um dos artigos que publicou para explicar os preceitos do WikiLeaks, Natalia Viana segue uma argumentação semelhante. “O WikiLeaks não foi feito para ganhar dinheiro, para dominar um nicho de mercado ou para atacar um governo. O WikiLeaks foi feito para ajudar essas fontes a realizarem algo que já desejavam, com maior segurança. É, na sua essência, um bom serviço jornalístico”, diz.
EUA e o WikiLeaks
Ao mesmo tempo em que o trabalho do WikiLeaks é elogiado e chega a empolgar boa parte do mundo, alguns setores levantam questões éticas que estariam, supostamente, sendo desconsideradas pelo sítio. “Estes documentos são propriedade do governo dos EUA e contêm informações classificadas e sensíveis”, declarou o Pentágono em nota oficial, logo após o vazamento de documentos sobre a guerra no Afeganistão. Segundo órgãos ligados a departamentos de defesa de vários países envolvidos nos vazamentos, a divulgação dos registros ameaça a vida e a segurança de soldados e diplomatas, além de revelar estratégias que podem ser utilizadas de forma hostil por nações inimigas.
“Acredito que qualquer veículo que libere informações dessa natureza tem que ser cuidadoso para evitar que vidas sejam colocadas em risco”, diz Mathew Ingram, do GigaOm.com. Ele, no entanto, defende que o WikiLeaks tem mantido, até o momento, os mesmos critérios adotados por jornais como o New York Times, no que se refere à liberação de informações sensíveis. Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), concorda. “Buscar informações diferenciadas é uma necessidade eterna do Jornalismo, e não pode ser condenada”, diz.
Para Maurício, questões importantes para a ética jornalística, como a preservação de nomes que podem ser atingidos pela divulgação dos dados, estão sendo, aparentemente, seguidas pelo sítio. “Há muitas argumentações nesse sentido, de que os telegramas vazados trariam risco para soldados ou diplomatas, mas isso não se verificou até o momento. Não acredito que existam impeditivos éticos ao trabalho que vem sendo feito pelo WikiLeaks”, argumenta.
As armações contra Assange
O próprio Julian Assange, principal figura pública do WikiLeaks, está envolvido em uma grande questão jurídica. Assange foi preso na Inglaterra, no dia 7 de dezembro, com base em um mandato de prisão expedido na Suécia. Segundo a acusação, ele teria cometido estupro e coerção ilegal contra duas ex-colaboradoras do sítio, ao manter relações sexuais sem preservativo. As duas supostas vítimas, identificadas no processo como “Senhorita A” e “Senhorita W”, teriam entrado em contato com Assange durante uma entrevista coletiva em Estocolmo, organizada pela ala cristã do Partido Social-Democrata sueco.
Assange teria ficado hospedado na casa da “Senhorita A”, que acompanhou Assange durante a visita como assessora de imprensa. A “Senhorita W”, por sua vez, teria ido atrás de Julian Assange ao saber, pela televisão, que ele estaria na cidade. O fundador do WikiLeaks teria, segundo as acusações, mantido relações sexuais sem preservativo com as duas – o que seria agravado, no caso da segunda mulher, por ter ocorrido à força, enquanto ela dormia. O advogado que defende Assange alega que as acusações são parte de uma armação, e alguns sítios divulgaram que uma das acusadoras teria, durante anos, trabalhado para a CIA, o que seria um indício de que as acusações foram forjadas. O próprio Julian Assange deu declarações à imprensa, nas quais se diz um “preso político”. O mentor do WikiLeaks foi libertado sob fiança no dia 16, e aguarda julgamento em território inglês.
Maurício Azêdo, da ABI, teme que as insinuações de perseguição a Assange tenham boa dose de verdade. “É um processo no mínimo estranho, que surge em um momento que causa grande desconfiança. Não é a primeira vez que veríamos esse tipo de expediente usado contra quem traz informações que são desagradáveis a grupos poderosos”, adverte.
Luiz Martins, da UnB, prevê que os governos sejam forçados a adotar uma espécie de “freio de arrumação” como reação aos danos causados pelo WikiLeaks. Segundo ele, a documentação de atividades consideradas sensíveis pelos governos, como as que envolvem movimentações de guerra, pode ser bastante modificada. “É possível que essas documentações diminuam de intensidade, que haja opção por não registrar certas ações em vídeo, por exemplo. Com isso, ficaria muito mais difícil revelar os excessos, que podem até aumentar, na medida em que os soldados saibam que não haverá imagens para fiscalizar seu comportamento”, argumenta.
Novo sítio para vazar documentos
O impacto causado pelo Wiki-Leaks com a divulgação de in-formações sigilosas de gover-nos é tanto que já começam a surgir “concorrentes” do sítio. O mais destacado, no momen-to, é o OpenLeaks, criado pelo alemão Daniel Domscheit-Berg, um ex-colaborador de Julian Assange. Ainda não existem detalhes maiores sobre o modo como o novo projeto irá atuar, mas acredita-se que ele não seguirá o modelo de centralizar vazamentos, sendo mais uma ferramenta de gerenciamento, disponível para quem deseje divulgar informações sobre governos, ONGs, empresas e outros órgãos semelhantes. Em princípio, cada fonte poderá escolher os meios e os veículos pelos quais as informações serão divulgadas, tendo maior controle sobre a abrangência e o impacto de suas revelações. A previsão é de que o serviço comece a funcionar no primeiro semestre deste ano, ainda em caráter experimental.
A leitura feita por muitos veículos de imprensa é de que o OpenLeaks é fruto de uma dissidência do WikiLeaks, surgindo como uma forma de superá-lo, ou até mesmo de neutralizá-lo. Mas o próprio WikiLeaks prefere encarar a questão por outro prisma. “Em minha opinião, soa meio patético quando algumas reportagens chamam o novo sítio de ‘rival’ do WikiLeaks”, declara a jornalista Natalia Viana. “Elas estão olhando esse novo fenômeno da internet com olhos antigos, assentados sobre o velho conceito das empresas jornalísticas de competição. Não é disso que se trata o WikiLeaks. Pelo contrário. É ótimo que haja outra organização, com critérios diferentes, espalhando esse novo conceito, que é permitir que qualquer pessoa denuncie algo errado no local onde trabalha”.
Via Sul 21
Por: http://limpinhocheiroso.blogspot.com às 17:51 0 comentários
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Bom artigo de investigação !
ResponderExcluirSou sempre a favor da informação. Tenha ela origem legal ou não.
Já que somos vigiados pelo Estado, então que possamos fazer o mesmo em relação aos ilumibados que nos governam.
Quem não deve não tema!
Tudo tem que ser as claras!!!
ResponderExcluirMuito bom o blog!
Provos Brasil
Rosa
ResponderExcluirBoa tarde
Estou retribuindo sua visita ao BONDeblog e ao ConeXãoBlogs, o que me deixou muito feliz. É bom começar o Ano estabelecendo novos contatos e conhecendo pessoas e seus blogs inteligentes e interessantes.
Quanto ao WiliLeaks, ele é a mosca que pousou na sopa dos donos do mundo da informação. O "estrago" que vai causar na hipocrisia internacional está só no começo. Por isso, o risco que Julian Assange corre é muito grande.
Deixo um convite para que conheça o BONDebate - http://007bondeblogeleitoral.blogspot.com/
Fatos da política, enquetes... também estão nesse blog que assino.
Seu link é incluído em todos os blogs (organizações BONDe, rs rs rs..) que você seguir.
Um abraço